A mulher e o corpo

Victor Hugo Vilaronga

2/6/20234 min read

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Vamos falar sobre padrões de beleza?

Atualmente em nossa sociedade a beleza se comporta como moeda de troca e agrega valor ao seu portador. Mas afinal, o que é beleza? Depende. Porcentagem de gordura baixo, músculos evidentes e definidos, abdômen exuberantemente reto, mamas e glúteos arredondados e firmes, pele branca, cabelo loiro... Um padrão massacrante e que se se alastra desde a Grécia antiga, com os músculos esculpidos.

Falando em Grécia Antiga, enquanto os homens de “bom corpo” e ricos eram exaltados, a qualquer sinal de beleza corpo feminino demonstrado, a perversão e a maldição eram atribuídas a elas, enquanto ao mesmo tempo em Roma, a beleza feminina era abominada pela igreja católica e associada às virtudes de caráter e discrição.

Assim como sua imagem, o movimento dos corpos das mulheres também deve seguir um padrão: Pernas fechadas ou cruzadas, sem movimentos bruscos, que não saia de suas bocas palavras de maldição, que seu temperamento seja controlado e o mais importante, que seu apetite seja limitado. Como se o controle e a crítica não fossem suficientes, são seguidos pela correção moral conforme a norma, todos visando um ideal único e exclusivo: o padrão.

E os efeitos psicológicos? “Limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa inferior, é forçar o corpo a viver sem seu espírito de direito, sem sua forma legítima, seu direito ao regozijo. Ser considerada feia ou inaceitável porque a beleza está fora da modal atual fere profundamente a alegria natural que pertence à natureza selvagem.” (ESTÉS, 2018) Estar inserido em uma cultura dominada pela padronização desencadeia uma série de comportamentos em busca do perfeito inalcançável. O desejo que incansavelmente se depara com a uma realidade diferente daquela apresentada em um clique da rede social de outrem, uma utopia, que se acaba em frustrações infinitas. Essas imagens apresentadas por pessoas que não condizem com o estilo de vida daquele que os vê, constelam (acessam) complexos antes intocáveis: inferioridade, baixa autoestima, imperfeição, entre outros. Ter esses corpos difamados é acarretar gerações de neuroses e ansiedades. Essa difamação às priva dos seus tesouros psicológicos, do orgulho pelo tipo de corpo que lhe foi transmitido por linhagens de antepassados, e assim ensinada a se rejeitar, ela se desvincula de sua herança e identidade física com o resto da família.

Se ensinamos a mulher a detestar o próprio corpo, como a mesma será apta a amar o da mãe que possui a mesma estrutura que o seu? Como será capaz de amar outras mulheres (e homens) próximas a ela que herdam as mesmas características? Isso rouba a alegria que deve sentir sobre seu próprio corpo, é uma agressão que atinge as que vieram antes e as que virão depois. Destruir esse vínculo lhe tira a confiança, faz com que ela entre na jornada da busca em ser boa ou não, e baseia sua autoestima em sua aparência em vez de na sua essência. Passa a gastar energia se preocupando e medindo a comida que come, os números da balança e as medidas da fita que usa, assim todos os seus desejos são influenciados: tudo o que faz, planeja e prevê.

Sempre ao corpo da mulher falta algo, ou sobra algo. E é aqui que se deve lembrar a existência de milhares de tipos de corpos, basta olhar ao redor do mundo real, dando fuga ao fantasioso. É aí que um sentimento de força do Self aparece, quando uma representatividade, escassa nas redes sociais e mídias no geral, apoia a identificação da sua imagem com a de outra, e você agora não se sente mais sozinha. Defender a existência de uma só beleza, é tampar os olhos para a natureza que os cerca. Não deve haver um só tipo de lobo, de arvore pinheiro ou de ave, muito menos um tipo de bebê, de homem ou de mulher, um formato de seio, cintura ou um tipo de pele. Grandes ou pequenas, largas ou estreitas, altas ou baixas: assim simplesmente por terem herdado a configuração corporal dos seus parentes, seja dos imediatos ou de uma ou duas gerações passadas.

É tamanho ganho a preocupação com a saúde, o investimento em se manter forte e cuidar do corpo da melhor maneira. Porém, é dentro de si que carregam a imagem estereotipada, que lhes da fome e ânsia por ser tratada com respeito e ser aceita em uma cultura que a cerca. Essa imagem grita para que os preconceitos e julgamentos desrespeitosos que são lançados sobre seu corpo, seu rosto, sua idade, cessem.

A natureza arquetípica selvagem da mulher não defende essa tortura com o corpo, em busca de aprovação de valor, caráter. Porém, ela não conseguirá alterar a cultura apenas projetando o seu desejo de mudança. O caminho mais sábio, será então mudar sua atitude consigo mesma, fazendo com esses julgamentos desvalorizados se reflitam e se tornem a voltar para sua fonte, assim resgatando seu corpo ao não renunciar à alegria do seu corpo natural, ao não comprar a ilusão popular de que a felicidade só é concedida àquelas de uma certa idade ou tipo, ao não esperar por ninguém ou se abster de nada, reassumindo a sua vida e interrompendo o processo. Assim, de uma forma política, o amor próprio irá revolucionar a cultura, em seu tempo.